Coordenadores: José Manuel Figueiredo Santos [ UAlg ] Carina Gomes [ CES-UC ] Natália Azevedo [ FL-UP ]
O turismo, como objeto de reflexão teórico-científica, é um campo de análise sociológica relativamente recente em Portugal.
Essas caraterísticas hodiernas prendem-se, por certo, com a institucionalização tardia da Sociologia na universidade portuguesa, não excluindo também o facto das grandes tradições sociológicas – filiadas nas matrizes inauguradas por Marx, Durkheim e Weber – terem estado, por largo tempo e por hipotecas intelectuais às suas origens, envolvidas no estudo do que era o processo fundador da sociabilidade, vale dizer, o trabalho; ora, neste enquadramento clássico, o turismo aparecia necessariamente como uma questão “periférica”.
Em meados do século XX, a relevância do turismo extrapola largamente os circuitos económico-financeiros, adquirindo um significado bem mais profundo quando apreendido como prática intercultural – e é sobretudo neste eixo que vem mobilizando as Ciências Sociais, em geral, e a Sociologia em particular, posto que estas, em face do processo contemporâneo de globalização, manifestam uma crescente sensibilidade para a espacialidade da vida social, que contempla de modo privilegiado o processo da interculturalidade e todos os que lhe são conexos.
Esta experiência, porém, não pode ser analisada se não se oferecer a uma tematização do campo onde se inscreve – o campo do lazer, mesmo que se leve em conta a clara distinção entre lazer e turismo moderno, que não é uma mera atividade de lazer, e que enquanto atividade possui algumas características cruciais que o distinguem de outras formas de lazer.
Dir-se-ia que, quer o paradigma da viagem, quer o do lazer, não determinam o turismo. Este resultará das sínteses das modelações sofridas na cisão das esferas culturais por qualquer um destes seus estratos centrais que, no seu conjunto, fazem ressaltar os seus contornos e a sua definição.
Por outro lado, essas estratificações só se tornam compreensíveis a partir de uma análise que exponha o modo como, a coberto da experiência moderna, se mobiliza a ação, designadamente aos níveis da produção, circulação e consumo turísticos, compreendendo-se o campo como um conjunto de jogos tensionais deduzidos das interações entre os indivíduos e os sistemas técnicos que se implicam em tentativas de racionalização, estabilização e controle da experiência. Tratando-se de um fenómeno complexo e multifacetado, o turismo comporta, por isso, estatutos, possibilidades e desafios distintos para os territórios, envolvendo um conjunto diversificado de projetos, ações e atores individuais e institucionais que produzem, difundem, avaliam e gerem imagens turísticas dos lugares.
Compreende-se, assim, que a Sociologia encontre hoje no fenómeno turístico um campo de excecional potencialidade para testar os seus recursos heurísticos e as suas possibilidades explicativas e interpretativas.
É nesse sentido que apelamos à participação de especialistas nacionais e estrangeiros, da sociologia e áreas afins, fazendo do X Congresso Português de Sociologia um momento alto na divulgação, partilha e criação científicas, exprimindo a forte ligação deste domínio científico, em Portugal, às aludas práticas sociais, inscritas nos estilos de vida modernos, na reorganização e nas políticas de planeamento dos territórios.
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